Neste tempo agitado, em que o estresse dita o ritmo
da vida e até o tempo para dormir, comer e se relacionar se torna artigo de
luxo, é possível que nem a pessoa mais preguiçosa possa dizer que está ociosa.
De modo geral, somos muito ocupados e andamos bem cansados. E exaustos por tentar
dar conta de uma agenda lotada de compromissos e pendências, muitos se sentem
no direito de ter preguiça (ou falta de disposição) para os elementos mais
importantes da espiritualidade: comunhão com Deus e envolvimento na missão.
O preguiçoso espiritual é descuidado ou inconstante
no estudo da Bíblia e da Lição da Escola Sabatina, na oração, na frequência aos
cultos; na guarda do sábado e no compromisso com algum ministério de serviço ao
próximo e edificação da igreja. Ele vive mendigando farelos espirituais; é
fraco na fé, raquítico no fervor, desprovido do poder do evangelho e vazio do
Espírito Santo. Como pastor, tenho visto que essas ovelhas precisam aprender
com o famoso conselho de Salomão em Provérbios 6:6-11.
A primeira lição que as formigas nos ensinam é
que para a manutenção da existência, Deus entra com a providência, e Suas criaturas
com a previdência. Ele provê o alimento (Salmos 104:14-15; 136:25; 146:7;
147:9), mas é preciso colhê-lo com diligência, no tempo certo e da forma
correta (Pv 6:8). Ellen White escreveu que as formigas nos ensinam lições de
paciente operosidade, perseverança em superar obstáculos e providência para o
futuro (Educação, p. 117).
O segundo aprendizado é que podemos até estar
ocupados, como é a rotina da maioria hoje, mas desperdiçando tempo em “pecaminosa
ociosidade, em práticas que corrompem a alma e o corpo”, como alertou Ellen
White (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 3, p. 1.312). Assim, a
“ociosidade”, do ponto de vista divino, não é mera inatividade, mas a
negligência do que é eterno por valorizar o que é transitório.
O terceiro ponto é que a formiga, por sua vez,
aproveita cada oportunidade para garantir o futuro. Esses pequenos insetos
conhecem as estações, trabalham com determinação, se alimentam sem esgotar tudo
o que ajuntam e assim separam provisões para enfrentar a crise e a escassez. O
mesmo deveríamos fazer em relação ao preparo para a eternidade. É preciso
aproveitar nosso tempo de graça. Estamos no verão, mas o inverno escatológico
em breve chegará.
A indolência pode custar nossa entrada no Céu e
utilidade no mundo (Mt 25:1-30), enquanto a diligência é fundamental para
desenvolvermos nossas aptidões (Orientação
da Criança, p. 59 e 60). Ao que preza pela lei do menor esforço, a
necessidade e a pobreza logo baterão a sua porta, trazendo sofrimento (Pv 6:11).
Porém, quem trabalha com foco adequado, recebe sabedoria, habilidades e forças
diante das crises do futuro.
Por fim, as formigas são pró-ativas e não
precisam da supervisão de um líder para trabalhar (Pv 6:7). Elas sabem que a
participação individual no contexto da colaboração coletiva é imperativa para a
manutenção do formigueiro. Nessa linha, o teólogo Jacques Doukhan identifica
três imperativos apresentados por Salomão no texto: (1) vai ter com a formiga;
(2) considera os seus caminhos e (3) sê sábio (El libro de Proverbios: El temor
de Dios es el Principio de la Sabiduría, p. 28, 29). Doukhan sugere que a
aplicação contemporânea desses conselhos seriam: (1) faça você mesmo, não
espere ordens; (2) aprenda a prever crises em potencial e se prepare para elas
e (3) cuide com a passividade preguiçosa e reaja ao apelo feito por Salomão: “Ó
preguiçoso, até quando ficarás deitado?” (Pv 6:9).
Pr. Heber Toth Armí
Artigo publicado na Revista Adventista de
Maio de 2016
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