NA COMPANHIA DO PASTOR: Um olhar escatológico sobre o Salmo mais popular da Bíblia


     O livro dos Salmos é o maior dos 66 livros da Bíblia, contendo 150 Salmos. Por servirem de inspiração, a maioria dos leitores da Bíblia tem grande interesse por eles. As poesias e canções inseridas nesse livro têm animado pessoas de todas as épocas, além de atrair grandes escritores e pregadores, como Charles Spurgeon, que, entre 1882 e 1886, publicou sete volumes sobre os Salmos.

     Espelhando os procedimentos de Hermann Gunkel quanto ao método da crítica da forma, que analisa os salmos de acordo com suas formas, contexto e propósito no culto, Hans-Joaquim Kraus escreveu um comentário intitulado Teologia dos Salmos e destacou a necessidade de se focalizar especialmente as ações e a natureza de Deus. Embora os salmos sejam palavras humanas ditas a Deus, eles fazem parte da Bíblia, que é a Palavra de Deus.

     Em síntese, os Salmos são uma coletânea de orações e hinos inspirados hebraicos que oferecem conforto e esperança. Para os cristãos, provavelmente eles sejam a porção mais lida e apreciada do Antigo Testamento. Pela sua própria natureza, são hinos dirigidos a Deus e que expressam verdades com melodias acerca do Criador.

     Os Salmos têm diversos autores, sendo que 73 do total de 150 são de autoria davídica. Antes de se tornar rei de Israel, Davi foi pastor de ovelhas e, com bom conhecimento na área, escreveu uma analogia relacionando pastor de ovelhas com o Bom Pastor. Dentre os 73 Salmos escritos por ele, o Salmo do Pastor (23) tem sido o preferido de multidões.

     Embora o Salmo 23 seja muito apreciado, muitos não o compreendem na totalidade. A compreensão dessa querida obra literária depende não só da familiaridade do leitor com o estilo poético oriental dos salmos, o contexto da época em que foram escritos, mas também da familiaridade com as Sagradas Escrituras. Afinal, esse salmo pode ser lido por uma perspectiva escatológica e isso o conecta com outras partes e promessas da Bíblia.

     O Salmo está dividido em duas partes. A primeira, seguindo a analogia do cuidado de um pastor por suas ovelhas, representa Deus, ou mesmo Jesus, como Bom Pastor. As promessas dos versos de 1 a 4 podem ser vistas como se cumprindo na vida das ovelhas de Cristo aqui neste mundo, no tempo presente. Porém, mesmo com as promessas de provisões, proteção, segurança, direção e amor, as ovelhas ainda enfrentam momentos desagradáveis, tristezas e angústias terríveis. Até o retorno de Cristo as adversidades tendem a piorar.

     A segunda parte aponta para um tempo além das promessas do presente. A linguagem já não é comparativa, mas profética. Não mais existe a ideia de pastor e ovelhas. Prova disso é que a ovelha não senta junto a uma mesa, muito menos à frente de seus inimigos. A ovelha não recebia nenhum tipo de unção, nem mesmo tinha taça, e nenhuma ovelha morava dentro da casa do pastor (aliás, o texto não menciona a casa do pastor, mas o próprio Deus e Sua morada).

      Para Davi, unção significa mudança de vida e privilégios. De um simples adolescente que pastoreava ovelhas no campo, ele passou a ser rei após ter sido ungido com óleo (azeite). Nesse contexto, unção significa transformação. É deixar de ser mera ‘ovelha’, inocente, dependente e com visão curta, para se tornar rei juntamente com Cristo no Céu.

     Preparar uma mesa, tema que aparece no verso 5, significa ter alimento para comer na companhia de amigos. Quando Davi escreveu o Salmo 23, uma ceia numa mesa preparada era sinônimo da união de grupos e indivíduos. Sentar-se à mesa consolidava a lealdade e era sinal de segurança e alegria, uma verdadeira festa. No banquete escatológico, Jesus é o Rei que convida Seus súditos para a abundância de manjares.

      Por fim, a ovelha vai habitar em lugar especial (v. 6). Mas o texto não diz que é na casa do pastor, e sim na Casa do Senhor, no Céu. Após a recepção e a celebração da vitória sobre o pecado, os súditos do Rei Jesus serão conduzidos para as mansões preparadas por Ele mesmo!

      Em síntese, podemos atribuir perfeitamente o Salmo 23 a experiência de fé que o cristão fiel viverá antes e depois da segunda vinda de Cristo. Pois haverá um ‘vale da sombra da morte’, mas o grande Pastor se levantará para proteger e guiar Suas ovelhas.

O Salmo 23 pode ser lido por uma perspectiva de vida futura ao lado do grande Pastor e isso o conecta com outras partes e promessas da Bíblia.

Pr. Heber Toth Armí
Artigo publicado na Revista Adventista de junho de 2017


Postar um comentário

0 Comentários